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UM NOVO NABOT NA COMUNIDADE

1 Reyes 21

María Cristina GUILHERME


 

 

Havia um certo Raimundo que possuía um sítio próximo a um vilarejo. Era com a pequena produção de verduras que ele sustentava sua família (mulher, três mocinhas e quatro meninos).

O sítio de Seu Raimundo ficava ao lado da fazenda de Seu Jackson, rico herdeiro de sete fazendas de gado leiteiro, casado com uma bela mulher de nome Isabel, elegante e de família tradicional.

Havia muito que Seu Jackson, desejava fazer um lago para seu filho passear de jetski,mas teria que destruir a quadra de esportes ou o campo de golfe.

O fazendeiro disse à Seu Raimundo:

- Venda-me seu sítio. É ideal para meu laguinho.

- Não posso, Seu Jackson. É tudo que tenho para sustentar a mulher e os meninos!

O fazendeiro insistiu, ofereceu outras terras, dinheiro, viagem. Seu Raimundo quase chorando respondeu:

- O Senhor me perdoe, mas não vendo, não troco, não é por maldade, não. O sr. Veja bem, lutei muito pra ter meu pedaço de chão, pra criar meus meninos. A família toda gosta de lá, nós trabalhamos juntos. Aquela terra é nossa alegria. O senhor vá me desculpando”. Seu Jackson entrou em sua pickup e se foi levantando poeira. Chegou à casa praguejando, quebrando tudo. O rosto em fogo, os olhos faiscando de ódio, se trancou no quarto e não quis falar com ninguém.

Naquela mesma noite, sua mulher chegou da cidade, carregada de sacolas, e ficou sabendo pelos empregados o quanto Seu Jackson tinha chegado transtornado. Depois de muito insistir, ele lhe contou a conversa com o lavrador e concluiu dizendo:

- Antes eu queria aquele maldito sítio para me divertir. Agora, quero só pra não ter essa gentinha por perto. Mas não posso obrigá-los...

- Pode sim -interrompeu a esposa- Você é o maior fazendeiro de toda região. Não vai poder com um joão-ninguém cheio de bicho-de-pé. Deixe comigo. Vou te dar aquele sítio de presente.

No dia seguinte deu dois telefonemas: um para a prefeitura e outro para o armazém. Naquele mesmo dia Seu Raimundo recebeu um aviso do fiscal da Prefeitura cobrando anos de impostos atrasados e dando um prazo de 20 dias para regularizar sua situação. Caso não conseguisse, o sítio iria a leilão daí a 30dias.

Seu Raimundo entrou em desespero, sentiu como se morresse. Sua divida era alta demais e- refletiu- a terra não entende de prazo, dá o fruto no tempo certo. Chamou os meninos, a esposa, e contou tudo que o fiscal havia dito. Os pequenos não entenderam, mas sentiram que algo sério estava acontecendo. A mulher falou em nome de todos: Deus vai nos ajudar! Ele não ia deixar a gente sem nosso cantinho. Vamos ter fé e trabalhar dobrado.

Seu Raimundo foi ao armazém comprar mais sementes e algumas coisas que estavam faltando em casa. Seu Joaquim, dono do armazém, abriu a caderneta e disse que não poderia lhe vender mais nada enquanto não quitasse seu débito.

Lá vai Seu Raimundo, cabisbaixo, humilhado, silêncio de nó na garganta, lentamente em direção ao seu sítio.

O sol se pôs e de novo se levantou. Os dias foram passando e o prazo de Seu Raimundo expirando.

As pessoas do vilarejo comentavam que ele ia perder a sítio. Os mais velhos falavam consternados enquanto pitavam seu cachimbo. As mulheres durante a lavagem de roupa no córrego e o sacristão espanando a poeira dos santos, cochichavam que parecia que Seu Raimundo estava sendo pressionado a vender sua terrinha.

Os cochichos chegaram no ouvido do padre, que contou na Missa, durante a homilia, que na Bíblia aconteceu algo parecido, e narrou a história da Vinha de Nabot (1Rs21). Entre os fiéis estava o locutor da única rádio do povoado. Rapaz corajoso e honesto que ficou sensibilizado com a situação da família de Seu Raimundo.

Quando seu programa foi ao ar na segunda-feira, teve início uma campanha para salvar o sítio de Seu Raimundo. Começaram a chegar doações para ajudar a pagar os impostos e foi organizado um boicote ao armazém.

O locutor, lembrando do texto bíblico da Missa, desconfiou que houvesse “gente grande” envolvida nessa história. Resolveu entrevistar o fazendeiro mais rico da região. Seu Jackson que se recusou a conceder entrevista. Nesse meio tempo, entrou em contato com um jornal da capital que publicou a história, que mobilizou mais gente na campanha para salvar o sitio de Seu Raimundo.

A repercussão da campanha foi tão grande que atraiu a atenção de outros veículos de comunicação, o que provocou um festival de denúncias, investigação federal, descobertas de irregularidades no uso da terra, invasão de áreas públicas e trabalho escravo. O resultado foi que o fazendeiro hoje responde a processo por grilagem de terras, sua esposa está fazendo compras no estrangeiro para sobreviver da venda de mercadoria, a fazenda não tem mais quadra de esportes nem campo de golfe e não tem um belo laguinho ... e ainda mais: o filho do fazendeiro detesta esportes aquáticos!

Seu Raimundo não perdeu seu sítio, que vai bem, obrigada! Com o dinheiro da campanha pagou os impostos, a dívida no armazém e ainda sobrou um pouco para alguma emergência. Sua lavoura dará colheita farta, pois a terra dá abundantemente quando é chegada sua hora.

Os meninos de Seu Raimundo estão brincando no terreiro, crescem fortes e felizes no sítio que agora tem nome: Sitio Nabot.

 

 

Maria Cristina Guilherme do Espírito Santo

Brasilia - BRASIL

 


 



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