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ESPERAR CONTRA TODA A ESPERANÇA

Romanos 4, 18-24, Génesis 12; 15; 17; 22

Suzana COSTA


 

 

Eu não a vi passar. Quando dei por mim, estava lá, franca, decidida, mas com uma ternura quase sobre-humana. “Não é possível, meu Deus, alguém assim! Ela não existe... é só uma sombra, um mito, uma história...” Doeu-me olhar seu corpo franzino caído ao chão. Sem vida? Não! Do sangue na terra brotavam sementes de esperança e de indignação, mas, sobretudo, sementes de coragem, de luta, de vitória. De repente, o computador avisa: você recebeu uma mensagem. Parada, diante do monitor, de um só clique, abri a mensagem. Era uma carta de um amigo que a conheceu bem. E foi assim, com os olhos dele, que ela me foi colocada à vista novamente, sem panos, nem velas, nem fitas:

A vida triunfou sobre a morte, porque, para ela, morrer em Cristo é viver pra sempre. Esperando contra toda esperança, ela acreditou e tornou-se a mãe de muitas esperanças. Ela não fraquejou na fé, embora já estivesse vendo o próprio corpo sem vigor. Diante da promessa divina, ela não duvidou, mas foi fortalecida pela fé e deu glória a Deus. Ela estava plenamente convencida de que Deus podia realizar o que havia prometido. Eis o motivo pelo qual isso lhe foi creditado como justiça. E será igualmente creditado para nós, pois acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos, Jesus nosso Senhor. E se ela morreu com Cristo, acreditamos que ela também viverá com ele.

Encerrei a leitura. Os olhos ainda postos sobre o monitor. Mas, agora, percorriam letras, formas, cores que o mundo virtual não podia criar (ou recriar). Havia uma outra história, aquela que os jornais e revistas não contam. Aquela que os autos da lei, os boletins de ocorrência, as páginas policiais nem sequer mencionam.

A vi pequena e frágil, brincando em seu jardim. Era a promessa de uma bela jovem, com seus longos cabelos, tão claros que se confundiam com os raios do sol. Os olhos azuis eram portadores de um brilho de vida, de esperança, de alegria e fé. Os mesmos olhos que foram cerrados pela força da violência, naquela época, brilhavam intensos e claros a imaginar outras terras, outras vozes, outras flores e outros cheiros.

A primeira voz veio profunda, interna e contínua: “Saia de tua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e a abençoarei; tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma bênção”. Ela partiu conforme lhe dissera Javé. Chegou a uma terra estranha, aprendeu a língua, os costumes, entendeu os sonhos e projetos, conquistou a confiança e o carinho de sua nova família: homens e mulheres despidos de sua dignidade, sem terra, sem pão, sem direitos. Construiu com eles uma nova terra à espera de um novo céu.

Assumiu seu novo lugar, sua nova gente. Olhos e ouvidos se abriram àquela voz, aquele espírito. Não era uma aventura qualquer. Era a sua grande aventura: a de construir o possível sonho de Deus, de justiça, de fraternidade, de amor e perdão. Projeto que incluí não só os seres humanos, mas toda a natureza. Mas, nem todos os corações estavam preparados para aquela semeadura. Corações de pedra, duros, frios... E a voz de Deus a ecoar em seus sonhos lhe dizia: Não tenha medo. Eu sou o seu escudo, e sua recompensa será muito grande. Eu sou Javé, que fez você sair de seu país, para lhe dar esta terra como herança.

A confiança em Deus pressupõe esperança. Esperar contra toda a esperança. Diante de tantos conflitos, de dores e desilusões, como acreditar no Reino? Como afirmar a possibilidade de mudança, de reconstrução, de justiça? Difícil viver da e na fé, quando os olhos do mundo vêem somente tristezas e angústias. Mas é preciso enxergar à diante. Dar um passo a mais, perceber que também há alegrias e esperanças. Foi num dia sem muita paz, de questionamentos e murmúrios que ela ouviu, novamente, a voz de Deus: Eu sou o Deus todo-poderoso. Vou fazer uma aliança entre mim e você, e a multiplicarei sem medida. Veja! A aliança que eu faço com você é esta: você será mãe de muitas esperanças. Eu a tornarei extremamente fecunda. Vou estabelecer para sempre a minha aliança entre mim e você, como aliança eterna.

Uma aliança com Deus pressupõe crer no invisível e no que ainda há de ser e, portanto, ainda não é... Crer que são fortes aqueles que, diante da história, parecem fracos e sem valor. Acreditar na possibilidade do que, para o mundo, é impossível.

Para o caminhante, o caminho é incerto e imprevisível. No horizonte se vê somente uma linha tênue, e algumas sombras nas margens podem confundir. Passos largos e apressados a levavam ao seu povo quando lhe veio a grande prova. Não havia cordeiro, só lenha e fogo. Sua única arma era a palavra, a promessa, o sonho, o Reino... Ela ergueu os olhos e viu um cordeiro, era ela mesma, oferecida em holocausto e escutou novamente a voz de Deus: Dorothy, Dorothy! Ela respondeu: Aqui estou!

 

Suzana Costa

Pouso Alegre - MG - BRASIL

 


 



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